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quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Libertos para servir: reflexões sobre o prazer no serviço a Deus

Capítulo VII
O testemunho
apostólico acerca de Cristo


1. O testemunho do evangelho de Cristo tem na cidade de Jerusalém o seu ponto de partida. Mesmo Paulo, que fora chamado por Deus para pregar o evangelho nas mais distantes regiões do mundo, teve que passar por Jerusalém (1.18). Jerusalém era o centro mais importante para a formação religiosa dos judeus, sendo a pátria do culto judaico e o berço da igreja cristã.

2. O provável motivo de Paulo é a necessidade de compartilhar sua experiência missionária. Enquanto ele trabalhava entre os gentios, os demais apóstolos testemunhavam em meio aos cristãos judeus. Ele queria dar-se a conhecer: “não era conhecido de vista das igrejas da Judéia” (1.22). Na Carta aos Gálatas, Paulo nos informa sobre duas dessas visitas: uma ocorrida três anos depois de sua conversão, quando se encontrou com os apóstolos Pedro e Tiago, e outra, mais de uma década depois, em que fora acompanhado por dois companheiros de missão: Barnabé e Tito.

3. Os apóstolos que trabalhavam antes de Paulo constituíam-se na liderança da igreja primitiva, sendo que dentre os que pregavam aos judeus se destacam dois: Tiago, irmão de Jesus e Simão Pedro, a quem Paulo chama pelo apelido Cefas ou por Pedro (que quer dizer rocha). Paulo coloca junto deles um terceiro apóstolo: João, o discípulo amado (1.18,19; 2.9).

4. Não se deve menosprezar a importância de Pedro para a igreja recém surgida. Além da confissão de fé narrada pelo evangelista Mateus (16.16-18), o testemunho de Paulo na Carta aos Gálatas reafirma Pedro como uma autoridade reconhecida pelas igrejas do mundo gentílico. A afirmação de Mateus formaria a base da fundação da igreja, e Pedro se tornaria porta-voz da herança evangélica deixada por Jesus. Tão proeminente era Pedro que, mesmo sem ter jamais visitado a cidade de Corinto, tinha lá seus partidários (1Co 1.12).

5. A Igreja Católica Apostólica Romana crê que seus Pontífices (Papas) sejam herdeiros desde primado de Pedro, constituindo-se eles mesmos nos mandatários da igreja cristã em todo o mundo, através dos tempos. Nós, cristãos evangélicos batistas, rejeitamos esta posição, pois não percebemos, nas páginas do Novo Testamento, orientações para que os apóstolos fossem substituídos após sua morte. Serviram, de fato, como líderes, mas seu papel não era permanente, e sim escatológico.

6. Tiago é reconhecido como o primeiro líder administrativo (pastor) da igreja em Jerusalém, e não um sucessor de Pedro, nem como bispo, nem como papa. Tem papel fundamental no concílio da igreja em Jerusalém (At 15) que decidiu pela aceitação dos gentios na igreja. Esse concílio aconteceu devido aos resultados positivos da primeira viagem missionária de Paulo. Os líderes judeus insistiam na circuncisão dos gentios convertidos para que esses fossem aceitos. Com a recusa de Paulo à escravidão da lei, e seu apego à liberdade da graça, a questão foi decidida diante da palavra dos apóstolos. Tiago ficou com a última palavra, favorável à tese de Paulo.

7. A estratégia adotada por Paulo no seu confronto com a liderança da igreja em Jerusalém não pode passar despercebida: “expus o evangelho que prego entre os gentios, mas em particular aos que eram de destaque...” (2.2)

8. Não é sem razão, portanto, que Paulo considere os apóstolos que o antecederam “colunas” (2.9), pessoas de autoridade, principalmente, no campo da exposição do evangelho da salvação (doutrina). Essa era uma lembrança necessária à igreja na Galácia, que parecia estar incorrendo no mesmo erro anterior.

9. Dentre os companheiros de Paulo, citados em Gálatas, Tito tornou-se um líder da igreja gentílica, a quem Paulo escreveu uma carta quando estava preso, deixando orientações para a continuidade da obra missionária. Barnabé, por sua vez, tem sua história relatada por Lucas no livro de Atos com maior nitidez. Era um levita originário da ilha de Chipre, um homem de valor no campo intelectual e que possuía boa formação bíblica.

10. Em Gálatas 2.7-9, pode-se perceber a clara divisão geográfica do testemunho evangélico apostólico. Paulo advoga para si (e seus companheiros de viagem) o trabalho junto aos incircuncisos (não-judeus ou gentios), enquanto que Pedro, na mesma medida, fica responsável pelos judeus (os da circuncisão). Isso demonstra a proposta do evangelho de tornar Cristo conhecido em todos os lugares, para a salvação de todo aquele que crê, sem distinção de raça, cor ou origem.

11. Paulo causa surpresa ao apresentar, no texto de Gálatas, um momento de tensão entre ele e o apóstolo Pedro (2.11-s). A questão está relacionada a uma atitude perigosa tomada por Pedro, quando visitara a igreja em Antioquia da Síria, à época sob a liderança de Barnabé e Paulo (At 11.20-26): “antes de chegarem alguns da parte de Tiago, ele comia com os gentios; mas quando eles chegaram, se foi retirando e se apartava deles, temendo os que eram da circuncisão”. Pedro, cedendo às pressões dos judeus que chegaram de Jerusalém, passou a evitar a companhia dos gentios com os quais estava compartilhando sua refeição. Tal acepção de pessoas é algo condenável ao comportamento cristão, afinal, todos os que ali estavam eram irmãos em Cristo. Por essa razão Paulo fala sobre Pedro: “resisti-lhe cara a cara”, ou seja, repreendeu-o em sua conduta hipócrita.

12. Lembremo-nos de agradecer a Deus por esses servos que atenderam à vocação apostólica e empreenderam suas energias e esforços para evangelizarem o mundo de sua época. Que eles nos sirvam como exemplos para a nossa conduta diante do desafio da evangelização mundial.

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