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domingo, 24 de janeiro de 2010

Libertos para servir: reflexões sobre o prazer de servir a Deus

Capítulo XII


A promessa, a lei
e a FÉ


1. Uma das mais importantes considerações da Carta aos Gálatas é a ordenação que Paulo faz da promessa, da lei e da fé para a vida cristã (nos capítulos 3 e 4). Afinal, o que vem primeiro? Qual a função de cada uma? Quais, dentre estas palavras, se concretizam na vida do crente hoje?

2. Em nossos dias, permanece forte a disputa entre a obediência legalista e a obediência pela fé. De um lado, a concepção legalista da vida: vê necessidade estrita de observar regras e normas, julga o outro pelo que esse faz e acredita em hierarquização espiritual. Em resumo, vê-se a salvação como o resultado das obras praticadas. Do outro lado, a concepção de justiça pela fé, sem méritos pessoais: prima pela consciência e pela responsabilidade pessoal de cada crente, representado pelo sacerdócio universal de todos os salvos, pela liberdade de expressão da fé e de interpretação das Escrituras. Em resumo, vê-se a salvação pela graça, mediante a fé.

3. Esta disputa parece não ter fim. Causa baixas em ambas as frentes de batalha. Viver por obras parece justificável, por causa da ilusão de disciplina e santidade total. Viver pela fé, livre de normas estritas pode descambar para a libertinagem, que é a acusação feita às igrejas menos rígidas em suas normas comportamentais, como é o caso dos batistas. A dúvida também existia na vida dos crentes da Galácia.

4. A pergunta que Paulo faz a eles continua ecoando: “é por obras da lei ou pelo ouvir com fé que a salvação é recebida na liberdade do Espírito?” (3.2 – paráfrase deste escritor). Em resposta: Deus, “prevendo” (3.8), isto é, tendo decidido de antemão, prometeu justificar o pecador pelo caminho da fé.

5. Abraão, o “Pai da fé” (Rm 4.16), é o exemplo clássico. A fé que demonstrou aponta para a participação ativa do homem no ato de crer. Embora seja Soberano, Deus não força o homem a crer. Entretanto, ele conduz a história humana em sua infinita onisciência para o ato da fé, quando promete a vida do Espírito. Eis a tese de Gálatas: há prioridade temporal da promessa em relação à lei e à fé.

6. Quando Paulo fala de paternidade abraâmica, não o faz referindo-se à descendência étnica. O contraponto aqui é que os judeus se orgulhavam dessa descendência “na carne”, mas esqueciam-se do sentido específico da descendência de Abraão, que é mais bem desenvolvido em 3.16: “as promessas foram feitas a Abraão e à sua posteridade... que é Cristo”. Paulo está afirmando que a bênção evidenciada na promessa (a justificação do pecador) é compartilhada com aqueles que exercitam a fé no Cristo (3.9).

7. Mas a lei entrou em cena antes da efetivação da fé, aqui entendida como o evangelho da salvação, ou ainda a “graça salvadora”. Paulo afirma que 430 anos depois de outorgada a promessa, a lei assume um papel relevante na história da humanidade (3.17).

8. Por que Deus precisou da lei mosaica, que em outros lugares da Bíblia é chamada de Estatutos, Ordenanças e Mandamentos, para colocar em ordem as relações dos homens com ele e consigo mesmos? Paulo explica: “por causa das transgressões” (3.19), isto é, das violações da lei cometidas por nós, de nossos desvios comportamentais, de nossos excessos.

9. A lei, que vem depois da promessa, não a invalida nem se volta contra ela (3.21). Ela apenas não tem a capacidade de vivificar o homem. Ela aponta para a promessa da vida, que é efetivada pelo Espírito de Deus no momento em que o homem crê.

10. Na obediência aos Mandamentos de Deus estava, portanto, implícito, o ato de crer. Aliás, no Antigo Testamento obedecer é sinônimo de crer! A lei atuava como guardiã da humanidade pecadora, enquanto a fé em Cristo aguardava o tempo de Deus para a execução do plano da salvação.

11. A fé, como dom de Deus, é portanto, o objetivo final da lei. Por meio dela, a promessa do Espírito - anterior à lei e à fé - nos é dada (3.22). Ela aguardava o tempo de sua manifestação (3.23), apenas no que diz respeito à pessoa de Cristo, pois já está presente na vida de Abraão. A fé cristã é um tipo de relacionamento. Requer laços de comunhão e de comunicação. Por isso não é possível crer sem, antes, ouvir. O evangelho que ouvimos está diretamente relacionado à verdade, pois os homens precisam conhecer a Deus (4.8,9).

12. Por isso Paulo afirmou que, pelo cumprimento da promessa da habitação do Espírito, na fé exercida por cada crente “Cristo é formado em vós” (4.19). Mas é preciso perseverar, insistir nessa relação verdadeira, com o Mestre e com seus ensinos, sob o risco de descaracterizar o evangelho recebido.

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