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domingo, 17 de janeiro de 2010

Libertos para servir: reflexões sobre o prazer no serviço a Deus

Capítulo IX

figuras
do Antigo Testamento


1. Paulo faz uso de exemplos bem conhecidos para o povo de Israel para explicar a doutrina bíblica da justificação pela fé, quando descreve a vida de Abraão e de sua família.


2. É mister entender, irmãos, que para os judeus Abraão é o personagem mais importante do Antigo Testamento. Pode-se ler sobre ele a partir de Gênesis 11, quando se chamava Abrão (que significa “pai exaltado”) e, posteriormente, na passagem central do Antigo Testamento, Gênesis 12, à qual Paulo faz referência na Carta aos Gálatas. A partir dessa passagem, seu nome fora mudado para Abraão (que significa “pai de uma multidão”).


3. Abraão é considerado por todos os judeus o patriarca (Pai) que deu origem ao povo judeu.  O evangelista Mateus começa sua narrativa mostrando que Jesus é descendente de Abraão (Mt 1.1), e as principais autoridades religiosas judaicas insistem em afirmar que têm Abraão por Pai (p.ex., em João 8.53). O próprio Cristo fez uso da figura de Abraão em seus ensinos (Lc 16.19-31).


4. Entretanto, Paulo deseja apresentar um novo sentido de paternidade, ao ligar os seres humanos a Abraão. Ele não está interessado na descendência étnica (racial). Se assim fora, somente aos judeus estaria Deus apresentando o plano de salvação.


5. Paulo se importa com o “Abraão crente” (3.9) e não com o Abraão patriarca. Para ele, por causa da atitude de Abraão, a verdadeira descendência do povo de Deus é aquela que crê. A fé que tem por objeto de confiança Jesus Cristo é o elemento unificador nessa relação espiritual.


6. Assim, Paulo fala em Gálatas dos filhos de Abraão, buscando um sentido comparativo para interpretá-los (4.21-31).


7. Paulo se refere ao texto de Gênesis 16 a 21, em que Abraão teve dois filhos que se tornaram referência para as questões raciais, políticas e religiosas envolvendo os israelitas.


8. Abraão teve, com sua esposa Sara, o filho prometido ao casal por Deus, Isaque, que significa “riso”. Como Sara era estéril, ela fez uso de um dispositivo de direito (àquela época) e concedeu sua escrava Agar para, em união conjugal com o marido, lhe gerar um filho, Ismael, que significa “Deus ouve”. Abraão e Sara lançaram mão desse dispositivo porque julgavam impossível a realização da promessa de Deus em face da idade avançada de Sara. Paulo chama os filhos de Abraão de “da escrava” (Ismael) e “da livre” (Isaque) - 4.22, aquele nascido segundo a carne, este, segundo a promessa.


9. No antigo direito, citado no texto de Gênesis 16, esse filho “da escrava” poderia passar por hebreu, mas, pelo princípio do direito em vigor à época de Paulo, do qual ele faz uso em seu argumento, o filho da união entre um israelita com uma escrava era considerado escravo, como a mãe.


10. O esforço de obter o filho sem levar em conta a promessa que fora feita por Deus, resultou na separação entre Abraão, Agar e Ismael. A promessa divina somente foi cumprida quando do nascimento de Isaque, o herdeiro natural de Abraão e Sara.


11. No argumento de Paulo, Isaque representa o papel de todos os que herdaram a salvação pela graça e favor divinos. Não há intervenção humana que possa substituir a promessa da salvação em Cristo Jesus.


12. Portanto, amados, a instauração do novo pacto destitui o antigo. Ser “filhos da promessa”, descendência espiritual de Abraão é, segundo Paulo, uma figura comparativa para a liberdade da fé.

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