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terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Libertos para servir: reflexões sobre o prazer no serviço a Deus

Capítulo VI

o que vem
de Cristo

1. A partir da libertação do pecado, proporcionada por Deus ao pecador, o cristão passa a receber muitas bênçãos. Eis, portanto, vindas de Cristo, as bênçãos celestiais sobre nós, tal qual nos apresenta Paulo.

2. Na epístola aos Gálatas, o apóstolo Paulo usa a expressão “de Cristo” depois de cada bênção específica. “De Cristo” pode significar “pela mediação de Cristo” – o que ocorre quando Paulo fala da escolha para que ele fosse apóstolo – ou, então, “que procede de Cristo ou é causada por ele”, na maioria das vezes.

3. Paulo fala de seu “apostolado por Jesus Cristo” (1.1). Jesus Cristo é o agente do chamado de Paulo para o ministério apostólico. Assim, entendemos que nossa vocação tem origem em Deus. Nada somos no reino dele por nós mesmos. Ele nos capacita para exercer nossa vocação.

4. Paulo apresenta também “a graça do Senhor Jesus Cristo” (1.3), que foi efetivada pelo desprendimento do próprio Deus, “que deu o seu Filho unigênito” para salvar os pecadores (Jo 3.16). É interessante que a graça de Deus só pode existir “em Cristo”. Fomos chamados para viver “na graça de Cristo”, envolvidos por Cristo (1.6; 6.18).

5. Paulo também fala da “paz de Cristo” (1.3). Aqui, quer mostrar Jesus como o mediador da paz (reconciliação) entre Deus e o homem pecador. Notemos, irmãos, que essa paz, produzida pela liberdade da culpa do pecado, traz segurança e tranquilidade, inclusive para as relações entre os crentes na igreja. Como afirmou Paulo, em outra de suas epístolas, a paz de Cristo cria laços fortíssimos de companheirismo (Ef 4.3).

6. Paulo aborda, também, a questão do “evangelho de Cristo” (1.7). Refere-se à pregação do evangelho que tem Cristo como conteúdo. A mensagem precisa ter Cristo como centro. Na carta aos Gálatas, o desvio intencional na mensagem é considerado uma perversão, uma descaracterização do evangelho (1.6-9). Por essa razão, luto, como pastor-educador na igreja local, para zelar pelo conteúdo cristão expresso no ato de culto, na escola bíblica, nas canções de louvor e na pregação de púlpito.

7. Um episódio muito debatido nesta Carta aos Gálatas é quando Paulo fala que o conteúdo de sua proclamação apostólica vem “da revelação de Jesus Cristo” (1.12,16). O apóstolo parece se referir, com esta expressão, ao episódio de sua conversão em Atos 9. Na passagem, Paulo viajava de Jerusalém para Damasco, a fim de prender os cristãos. Ele foi jogado da sela de seu cavalo ao chão, e se viu cercado por um enorme clarão de luz. Ali, Paulo ouviu o próprio Cristo ressurreto questioná-lo quanto à sua ação contra os cristãos. A vida de serviço deste homem de Deus começava. Notem que essa revelação é o desvendamento, por iniciativa de Deus (Ef 1.9), do seu propósito secreto nas relações com o homem, fazendo-o ver a real condição de perdição eterna e permitindo-lhe uma mudança de rumo. Não se refere, portanto, a descobertas diárias e contínuas da vontade de Deus, pois estas se fazem pelo estudo bíblico e pela oração.

8. Como já afirmou em tantas outras Cartas, Paulo dá muita ênfase ao “Espírito de Cristo” (4.6). Com isso quer dizer que Cristo se faz presente e atuante na relação do crente na pessoa do Espírito Santo. Nessa passagem de Gálatas, encontra-se a doutrina da habitação plena do Espírito Santo no salvo. É o Espírito Santo o agente da salvação. O doador da vida e o mantenedor da condição liberta do cristão. Segundo diz Paulo, em Gálatas 3.2, isso se dá quando o pecador crê: “pelo ouvir com fé” se recebe o Espírito e tem início a nova vida. Cremos, portanto, que não pode haver nova vida sem que o Espírito Santo esteja no crente.

9. Um dos temas centrais da Carta aos Gálatas é “a liberdade de Cristo” (5.1). Quando Paulo afirma que fomos libertos “para a liberdade”, não quer dizer que não há normas ou regras no viver cristão, ou que o cristão pode fazer qualquer coisa. Paulo explica que a liberdade do Espírito de Cristo é um estilo de vida em oposição ao pecado, em direção à vontade de Deus. É liberdade “do pecado” para “o serviço a Deus”. Não há lugar para legalismo e justificação por obras. Obras não salvam. São consequências naturais de uma vida guiada pelo Espírito.

10. A “lei de Cristo” (6.2) se encontra no final da carta, como que resumindo o pensamento de Paulo sobre a força motriz da liberdade. É preciso “cumprir” a lei de Cristo, isto é, buscar que Cristo preencha totalmente e em toda a medida a própria vida. Paulo explicara, um pouco antes, em Gálatas 5.13 e 14, que a lei tem importância para o cristão, mas que ela se materializa num único gesto: o amor. O amor que devemos a Deus nos leva para a atitude de serviço ao próximo (5.13).

11. A “cruz de Cristo” é, muitas vezes, motivo de perseguições para o crente (6.12). À época dessa Carta, com certeza, ser cristão era ter a vida ameaçada a cada instante. Paulo explica que os cristãos da Galácia estavam sendo tentados a se unirem ao judaísmo (uma religião tolerada pelo Império Romano) para, assim, fugir das perseguições movidas pelo império contra os seguidores de Cristo, considerados por eles como agitadores da ordem e inimigos do estado. Para Paulo, ser cristão é “estar crucificado com Cristo” (6.14), o que é um motivo de glória, isto é, o sentimento de confiança na eficácia da obra de Cristo em nós. Fomos libertados do pecado (o mundo está crucificado para nós) para servir a Deus (estamos crucificados para o mundo).

12. De fato, muitas bênçãos provêm de Cristo em nossa vida. Mas não aquelas que constituem o desejo materialista de nossa sociedade moderna. Enquanto alguns, dizendo-se religiosos, proclamam em alta voz que Deus quer vos dar um “bom” emprego, prosperidade econômica, carro, casa etc., Paulo afirma que “em Cristo” Deus vos dá graça, paz, uma mensagem para proclamar, a revelação de seu propósito para a vossa vida, a liberdade das amarras do pecado, uma disposição insuperável para amar, um desejo de servi-lo. Atentemos, pois, para estas coisas e, com efeito, ao buscá-las, todas as demais nos serão acrescentadas (Mt 6.33).

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