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terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Libertos para servir: reflexões sobre o prazer do serviço a Deus

Capítulo XIII


Dois tipos de


SERVIDÃO  






1. Façamos para nós mesmos a seguinte pergunta: “Não seria bem melhor para os homens escolherem servir a Deus, a fim de fazer uso dos benefícios que essa relação traz em si mesma?” Com toda certeza de que sim!

2. Mas, infelizmente, a realidade não é tão bela... Os homens, em seu estado natural de servidão ao pecado (3.22a), acabam por optar por outra estratégia: a adoção de regras estritas de comportamento, esperando, assim, solucionar a desordem interior em que se encontram. Era assim que os judeus viviam, pela lei de Moisés. É assim que vivemos hoje, culpando a tradição e o tradicionalismo pelos nossos problemas eclesiásticos e fornecendo o contexto sócio-cultural propício para as novas propostas de “salvação eclesiática”... (Refiro-me aos novos modelos de igreja). Na verdade, apenas buscamos novas “leis” para dar conta de nossa incapacidade espiritual.

3. Na Carta aos Gálatas, Paulo chama esta escolha de “viver como judeus” (2.14), “maldição da lei” (3.13), “estar reduzido à servidão debaixo dos rudimentos do mundo” (4.3).

4. Imaginemos, para exemplificar a dificuldade relacionada a esta escolha, que um homem habite numa casa, à beira da estrada, e, por isso, tem sua residência invadida pela poeira trazida pelo vento. No decorrer dos dias, todos os móveis estarão cobertos de pó. Certo dia, ao receber a visita da irmã, esta lhe escreve num pedaço de papel dez itens descrevendo as ações a serem realizadas para colocar a casa em ordem. Aquele homem agradece, coloca o papel em cima da escrivaninha empoeirada e, quando ela vai embora, despede-se, gentilmente. O fato das regras terem sido escritas não garantirá que aquele homem vai executá-las, da maneira como estão expressas. Talvez, ele nem mesmo as lerá, ao realizar a tarefa (se é que vai...). Talvez, ao varrer, jogue a poeira para baixo do tapete (o que, com certeza, não é o que sua irmã orientou...) ou então, como parece ser o caso de quase todos os homens, ele apenas exija que outra pessoa faça aquilo por ele, que, com certeza vai deixá-lo contente.

5. Assim vive o homem que pretende “seguir os procedimentos da lei”. O fato de os mandamentos serem santos, justos e bons não garante a sua execução. Nas tentativas frustradas pelo pecado, os homens “varrem muita poeira para baixo do tapete”, fingindo que são justos e corretos diante de Deus. Mas, na sua grande parte, os homens preferem jogar a responsabilidade para os outros (apontar o pecado, exercer o julgamento, mudar de sistema organizacinal etc.) com a única intenção de evitar os olhares para a sua própria vida. 
                                                                                                                                                                                         
6. Os cristãos da Galácia, que estavam debaixo da lei, por serem judeus, haviam sido “resgatados” dessa opção de vida (4.5). Esse é o motivo da perplexidade de Paulo: como podiam eles querer voltar ao antigo estado de escravidão, depois de terem recebido tamanha bênção?!

7. O resgate, literalmente “a condução para fora da condição anterior”, é libertação, redenção. É uma das mais belas imagens do Antigo Testamento. Lá, o redentor compra de volta a liberdade de alguém que fora colocado em estado de escravidão, seja por causa de uma dívida ou qualquer outro motivo.

8. Você já se perguntou por que devemos ser libertos da escravidão da lei? Penso em duas respostas: Primeiro, porque não podemos fazê-lo por nós mesmos. É Cristo quem nos liberta. Segundo, porque a lei é inoperante em nosso caso, por causa do pecado que habita em nós e nos escraviza. Lendo a descrição dessa condição pecaminosa em Romanos 1.18-32, entendemos por que razão a humanidade parece piorar a cada dia...

9. O resgate de Cristo se dá na esfera espiritual. Paulo descreve o ato como “o recebimento do Espírito” (3.2), a promessa da parte de Deus (3.5,14), pela resposta positiva ao apelo da fé (2.16; 3.11).

10. O resgate modifica a condição humana: somos adotados como filhos de Deus. Paulo faz uso do argumento da filiação de Abraão, tão importante para os judeus, para mostrar que descendem espiritualmente de Abraão os que como ele creram (3.8). A bênção prometida a Abraão vem a todos por meio de Jesus Cristo (3.14), que liberta o homem da escravidão da lei, do pecado e da morte. Paulo também diferencia o servo (escravo) do filho (também servo, mas por vontade própria).

11. É a partir da libertação da escravidão que o homem pode realmente escolher a quem servir. No caso, ao optar pela fé em Cristo, ele escolhe voluntariamente servir a Deus, e o faz com prazer. Somos, assim, transportados de um reino (das trevas) a outro (da luz), do império do pecado para o reino de Cristo.

12. Eis, em resumo, o conteúdo deste capítulo: antes de crer o homem é escravo do pecado, está debaixo da maldição da lei, que resulta na morte. Pela fé em Cristo, que tem como fundamento a presença purificadora do Espírito, o pecador é libertado desta condição, e, assim, pode escolher servir a Deus, abandonando sua antiga maneira de viver. Pode, enfim, viver na dependência do Espírito.


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