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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Libertos para servir: reflexões sobre o prazer no serviço a Deus

Capítulo VIII
  
De olho nas
tentações


1. A tarefa de viver neste mundo como seguidor de Jesus não é fácil, amados do Senhor. Mas, se soubermos nos apresentar vigilantes diante dos desafios que estão à nossa volta, poderemos resistir e ter sucesso nessa carreira ou missão. Antes, precisamos identificar as dificuldades iniciais na caminhada cristã.

2. Com esse interesse em mente, Paulo escreve aos gálatas para desafiá-los a perceberem seus deslizes, e para mostrar como sucumbiram (ou estavam por sucumbir) às tentações. São lições preciosas para nós, cristãos do século 21.

3. O primeiro desafio para o cristão é o “presente século mau” (1.4), isto é, o estado de coisas que marcam a era em que se vive. Segundo as Escrituras, essa era é marcada pela pecaminosidade. Paulo mostra que Cristo já nos resgatou desse domínio, quando se deu na cruz por nossos pecados e, posteriormente, venceu a morte pela ressurreição. Não deixemos, portanto, que a mentalidade desta época, nas formas do materialismo, secularismo, ganância, insensibilidade, individualismo, sensualidade, rebeldia e tantas outras coisas, se imponha sobre nós!

4. Outra grande tentação é sucumbir diante de “falsos irmãos” (2.4), que na aparência de santidade, não andam conforme a verdade do evangelho, induzindo cristãos ao erro. Muitos são os líderes evangélicos que têm se portado assim, ostentando-se cristãos professos, mas destituídos do conhecimento de Deus e da piedade de vida.

5. Outra tentação expressa por Paulo nessa Carta aos Gálatas é “não romper definitivamente com a velha natureza”. Paulo usa várias expressões para mostrar esse perigo na vida dos cristãos da Galácia:

6. Primeiro, diz que eles correm o perigo de “tornar a edificar o que foi destruído” (2.18), naquele contexto, significando o perigo de voltar aos ditames da lei, impedindo a ação eficaz da graça salvadora. Para Paulo, essa atitude também é “acabar pela carne” (3.3b), ou seja, viver distante da influência de Deus e seguir os desejos e instintos naturais pecaminosos. Diz ainda que os gálatas queriam “tornar aos rudimentos fracos e pobres” (4.9), e, mais explicitamente, diz que queriam “estar debaixo da lei” (4.21a) ou a frase sinônima “dobrar-se a um jugo de escravidão” (5.1), referindo-se evidentemente à ineficácia e à impotência da lei diante da maldição do pecado e também à adoção da prática da circuncisão para os novos crentes, que é um ato cerimonial importantíssimo para o judaísmo, ao qual Paulo se refere ironicamente em Gálatas 5.12 e explicitamente em 6.12.

7. Outro grande inimigo a ser enfrentado pelo novo crente é o “fascínio pelo líder”, que é algo natural do ser humano, ainda que não seja uma atitude sábia. Como crianças espirituais, novos crentes tendem a “idolatrar” seus líderes. Notemos a pergunta de Paulo aos gálatas: “Quem vos fascinou?” (3.1).

8. Os cristãos da Galácia estavam sendo iludidos pelos judaizantes, pois “fascinar”, no idioma usado por Paulo, o grego, significa desde falar mal (provavelmente, da graça salvadora em detrimento das obras) até enfeitiçar ou encantar. Quantos não são, pergunto-vos, os mestres da oratória em nossos dias, nos meios de comunicação e nos púlpitos de nossas igrejas, que convencem os novos crentes com suas crendices, levando-os a tomarem atitudes altamente prejudiciais, quando não totalmente destituídas de embasamento bíblico?

9. Segundo a Palavra de Deus, a cultura do evangelho é a resposta final para as questões submersas nesse mar do social que é influenciado pelo inimigo de nossas almas: “...o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos...” (2Co 4.4). O cristão é convidado a resistir ao mundo e à mentalidade pecadora, à semelhança do que fez Paulo: “...rejeitamos as coisas ocultas, que são vergonhosas, não andando com astúcia, nem adulterando a palavra de Deus...” (2Co 4.2a). Se a mentalidade moderna é produtora de ídolos (e exige adoração), ressoa em nossos ouvidos a pergunta paulina: “...que sociedade tem a justiça com a injustiça? Ou que comunhão tem a luz com as trevas? Que harmonia há entre Cristo e Belial?...” (2Co 6.14b,15a).


9. Quando a igreja deixa de tomar uma posição disciplinar em relação aos perturbadores da paz também é muito prejudicial para o novo crente, conforme afirma Paulo: “aquele que vos perturba, seja quem for, sofrerá a condenação” (5.10b). Paulo ilustra a sentença com a imagem do fermento e seu poder transformador na massa. Obviamente, tal condenação deveria ser a exclusão desses indivíduos que deturpavam o evangelho da comunidade cristã na Galácia.

10. Há, portanto, grande responsabilidade pesando sobre os ombros da igreja, a do exercício da disciplina cristã, quando é o caso da descaracterização do evangelho por qualquer de seus membros, mesmos aqueles que parecem ter funções de liderança. Esse processo disciplinar deve ficar sempre caracterizado pelo desejo de resgatar a verdade do evangelho. Caso haja manifestação de arrependimento, diante de Deus, por parte da pessoa ofensora, restaura-se a ordem. Fala-se de “processo” disciplinar, porque a igreja precisa permitir o direito de defesa dos acusados, (se possível) visitá-los em comitiva autorizada pela Assembléia regular e, ainda, exercer o direito da exclusão do membro, caso fique comprovada sua atitude errônea e a sua não-manifestação de arrependimento diante de Deus e da igreja.

11. Dentre os perigos vividos na própria individualidade, está a atitude de vanglória (5.26), que é o mesmo que tornar-se envaidecido, ou pior, presunção em demasia ou sem razão, quase sempre em detrimento dos outros.

12. Essas dificuldades iniciais do novo crente em Cristo são reais. Devemos resistir a elas e, com vigor, permanecer trilhando o bom caminho que escolhemos. Para isso, é fundamental a convivência no templo: “não abandonando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros...” (Hb 10.25a). A vida em comunidade nos prepara para o enfrentamento do pecado, afinal, como afirma o escritor aos Hebreus, acerca da igreja: “Nós, porém, não somos daqueles que recuam para a perdição, mas daqueles que crêem para a conservação da alma” (Hb 10.39). 

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