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terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Libertos para servir: reflexões sobre o serviço a Deus

Capítulo XVII

O FRUTO do
Espírito

(Sinais da nova vida em Cristo)

1. O objetivo da libertação realizada por Deus na vida de cada cristão é a existência caracterizada pelo fruto (no singular) do Espírito, em suas várias manifestações. Esta realidade é apresentada como a contrapartida divina às obras produzidas pelo desejo pecaminoso. Representa, também, o desejo de Deus para os seus filhos, de guiá-los (5.18) em toda “a verdade do evangelho” (2.14). Em resumo: a existência do fruto do Espírito na vida do crente dá legitimidade e integridade à experiência cristã. O fruto do Espírito é esperado como conseqüência natural da nova vida do salvo e também como salva-guarda de sua atual condição. Para Paulo, não frutificar quer dizer viver abaixo da expectativa de Deus.

2. Paulo usa nesta carta dois sinônimos para definir aqueles que manifestam o fruto do Espírito em suas vidas: “andar pelo Espírito” (5.16) e “ser guiado pelo Espírito” (5.18). Ambos retratam um comportamento esperado daqueles que vivem segundo as orientações divinas, sob o impacto da presença santificadora do Espírito em seus corações e mentes. Tais expressões podem ser encontradas em suas outras cartas, pois estabelecem um padrão. Por exemplo, quando diz que nós “não andamos segundo a carne, mas [andamos] segundo o Espírito” (Rm 8.4b). Outro texto muito peculiar é Efésios 2.10: “Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus antes preparou para que ANDÁSSEMOS NELAS.” Paulo amplia o sentido da expressão afirmando que é sinônimo de “andar em Cristo” (Cl 2.6).

3. Paulo explica que o crente anda conforme a carne (se for desobediente) ou conforme o Espírito (se for fiel). É assim no dia-a-dia do cristão, como se pode perceber na descrição que o apóstolo faz das obras da carne (retratadas no capítulo anterior), e pela evidente oposição que elas fazem ao comportamento cristão esperado por Deus (5.17). Mas, se Paulo não se dá por vencido pela carne, nem nós. Ele nos mostra o caráter definitivo do agir (o fruto) do Espírito em nós. Este agir possibilita a comunhão do homem com Deus. É só pelo Espírito que o homem pode se ver livre do poder escravizador de sua natureza pecaminosa. É pelo Espírito que a existência humana pode ‘frutificar’:

4. O fruto do Espírito é “o amor” (5.22a). Muito tenho insistido nisso com a Primeira Igreja Batista da Fazenda Botafogo. Devemos separar para Deus um sentimento puro de amor, uma espécie de entrega completa e incondicional, que serve como o motor a nos impulsionar para a vida religiosa. Não falo aqui de uma “paixão” por Jesus (que é o mais recente neologismo para o anelo cristão de intimidade com Deus). Uma paixão pode ser saciada, mas o amor, não! Ele é mais exigente. Espera um convívio, uma relação duradoura (no caso de Deus, uma relação eterna). Não é à toa que Paulo tenha afirmado que três sentimentos devem permanecer: a fé, a esperança e o amor. Mas, continua, “o maior destes é o amor” (1Co 13.13). Quem manifesta o fruto do amor reconhece que antes de amar a Deus, ele nos amou primeiro. Não é sem razão que Paulo coloca o amor como a base para todos os outros dons listados aqui.


5. O fruto do Espírito é “a alegria” (5.22a). É o que significa a palavra ‘gozo’, em linguagem religiosa, palavra que soa mal aos ouvidos pelo seu uso mundano. Cantamos essa verdade quando dizemos “a alegria está no coração de quem conhece Jesus”. Jesus é o motivo da alegria do crente. Portanto, demonstremos alegria na oração (Fp 1.4), alegria no sofrimento (1Pe 4.13), pois sabemos que é uma grande honra “padecer como cristão” (1Pe 4.16), e alegria no serviço cristão: “Servi ao Senhor com alegria, e apresentai-vos a ele com cântico” (Sl 100.2). Uma coisa interessante que podemos constatar em nosso caso particular na Fazenda Botafogo, é que a alegria do pastor alegra a igreja, e a alegria da igreja alegra o pastor. Isso porque a alegria é contagiante, um fruto difícil de comer sozinho...

6. O fruto do Espírito é “a paz” (5.22a). Podemos falar de paz em nível interior, paz de espírito, e também exterior, paz com os demais. Na verdade, a paz que nos alcançou é a reconciliação com Deus e a restauração da comunhão com ele, e que nos leva a comunhão com os demais irmãos. Podemos ler a respeito disso em várias passagens: Romanos 5.1 (afirma que por Jesus ela já nos alcançou); 12.18 (mostra que o perdão de Deus traz paz); Efésios 2.14,17 (afirma que Cristo é a nossa paz e que nos traz a paz); e em Filipenses 4.7, que é a regra áurea da paz para nós: “e a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus”.

7. O fruto do Espírito é “a longanimidade” (5.22b). Você estaria disposto a caminhar junto com alguém que se tornou uma companhia desagradável? Você estaria disposto a conviver e se relacionar com alguém que disse coisas horríveis a seu respeito? Você foi ferido por alguém e logo se esqueceu do fato? Pois bem, se você respondeu ‘sim’ é porque você é uma pessoa longânime, ou seja, não-vingativa, compassiva, que mostra clemência, certa resistência pacífica e paciente diante do sofrimento provocado por outra pessoa. Podemos agir assim porque Deus o faz conosco (Sl 103.8,9). Nossos pecados entristecem a Deus, como nos mostra a narrativa de Números 14. Mas ele ainda assim demonstra seu caráter longânime para conosco: “O Senhor é tardio em irar-se, e grande em misericórdia; perdoa a iniqüidade e a transgressão...” (Nm 14.18a). E quanto a nós, irmãos da PIB Fazenda e amigos leitores: temos demonstrado essa característica em nosso viver?

8. O fruto do Espírito é “a benignidade” e “a bondade” (5.22c). Paulo usa benignidade no sentido de uma “disposição para o bem”, um caráter virtuoso. Nesse sentido, creio que ele se aproxima muito dos filósofos gregos, para os quais o homem deveria ser virtuoso, ou seja, dispor-se ao bem comum para encontrar a felicidade. Bondade já é algo prático, resultante de uma ação amorosa. Algo “bom”, portanto, deve ser algo motivado pelo amor. Como anda a nossa disposição para o bem? E o amor de Cristo? Tem se materializado em ações eficazes em vosso viver?

9. O fruto do Espírito é “a fidelidade” (5.22c). Paulo usa aqui a mesma palavra que usamos para traduzir em nossa Bíblia o termo “fé”. Fidelidade é confiança, fé, certeza, sem a qual o comportamento cristão fica duvidoso. Precisamos agir com fé, pela fé e a partir da fé que Deus nos concedeu. Em resumo, “sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb 11.6a); a fé é o nosso escudo contra as investidas do inimigo de nossas almas (Ef 6.16); a fidelidade a Cristo nos levará às últimas conseqüências: “Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida.” (Ap 2.10b).

10. O fruto do Espírito é “a mansidão” (5.23). A palavra é muito confundida com “humildade”, que em grego refere-se, objetivamente, à condição humilde (pobreza) e, subjetivamente, ao espírito humilde. Ser manso não é ser humilde. Ser manso é ser gentil, educado para com os outros, respeitador, enfim, ser capaz de ter uma resposta sempre positiva. Um exemplo de mansidão devemos dar (nós, os homens esportistas) na prática do futebol. Nossa cultura brasileira é a da vitória, o único resultado aceitável. Perder é algo tão inadmissível, que se faz de tudo para não perder, inclusive deixa-se de lado a gentileza e a espírito esportivo, tão características do esporte em sua origem. Como pastor-esportista, oriento minha congregação a práticas esportivas ‘reinventando’ as regras para tornar o esporte uma coisa saudável, respeitável. Em nosso meio, devemos perder “sorrindo” e, evidentemente, tentar fazer os outros “sorrirem” também, ou seja, ganhando deles. Na hora de jogar bola, vez ou outra, a gente esquece desse gomo do fruto, é verdade... Mas logo interrompemos o esporte e nos conscientizamos do erro cometido. Isso acontece por causa do Espírito de Deus que nos faz mansos e humildes.

11. O fruto do Espírito é “o domínio próprio” (5.23). Cristãos são senhores de si, no sentido de conseguir um autocontrole diante de uma situação inusitada? O domínio próprio fecha a lista de dons, porque é o resumo do espírito livre e responsável, do indivíduo que age por consciência própria e não por causa de leis exteriores e cerceadoras da liberdade pessoal. Paulo nos ensina em Gálatas que fomos libertos para servir ao Deus vivo, com consciência e por escolha pessoal. Afinal, Deus é o responsável pela nossa liberdade.

12. Eis, amados, o fruto do Espírito, que é a dádiva de Deus para todos os que foram libertos do poder escravizador do pecado. Então, é hora de frutificar. Não esperem mais. Exerçam a sua liberdade para servir a Deus com o fruto que ele nos oferece.

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