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segunda-feira, 22 de março de 2010

A IGREJA-MODELO: reflexões sobre como viver e divulgar a fé

Capítulo 7
Imitadores do Senhor
(A partilha de experiências comuns aos que servem a Deus – 1Ts 1.6)

1. “Você é a cara de seu pai!” – Foi a frase que ouvi, orgulhoso, alguém dizer para meu filho Arthur. Ainda que o olhar daquela pessoa se dirigia apenas para a forma exterior, meu filho é bastante parecido comigo, também, nas atitudes. É sobre isso que Paulo fala em 1Tessalonicenses 1.6,7: o conceito de mímesis, do grego “miméomai” – imitar, seguir o exemplo de outrem.

2. Escritores importantes, como Walter Benjamim, dedicaram tempo e esforço para destacar a importância desse modelo mimético de educação que é muito peculiar na infância. A professora Anita Helena, comentando a obra de Benjamim, afirma que “a capacidade mimética se apresenta como o dom de reconhecer e de produzir semelhanças para compreender e ordenar o mundo, atribuindo-lhe um sentido”. (1) Mas, ao mesmo tempo em que se assemelha ao adulto, a criança  renova e recria a figura que imita. E aí está um direcionamento para a abordagem desse capítulo: Não devemos imitar Paulo e Cristo recriando suas experiências. Isso nos é impossível, pois olhamos para o passado sob o prisma do presente, que projeta sua sombra sobre ele. Cabe-nos vislumbrar, a partir dos relatos bíblicos, como ser semelhantes a Jesus a partir de nossa própria identidade cristã, no contínuo processo de renovação e percepção do sentido da vida que escolhemos, dirigida por Deus para um fim específico: a obediência de fé.

3. Paulo sempre procurava encorajar os cristãos a seguirem seus passos. Exortou, por exemplo, à comunidade cristã de Corinto, por duas vezes: Em 1Coríntios 4.16, disse: “Admoesto-vos, portanto, a que sejais meus imitadores.” O tom da carta era imperativo: “Sede meus imitadores...” (1Co 11.1). Um terceiro exemplo encontra-se na carta aos Efésios, onde diz que é um dever filial assemelhar-se a Deus em caráter e santidade: “Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados” (Ef 5.1). Foulkes lembra que essa é a única ocasião em que o crente é convocado a “imitar Deus”, mediante a vida pautada pelo amor.(2)

4. Em Tessalonicenses, Paulo apresenta a “mímesis” cristã (o ato de termos que nos assemelhar a Cristo) em duas realidades:

5. Primeiramente, Paulo apenas constata o fato na vida daqueles cristãos: “Com efeito, vos tornastes imitadores nossos e do Senhor...” (1.6a). É o mesmo que dizer que o testemunho da igreja era positivo, fiel ao modelo original que fora proposto por Deus para seus filhos amados, mesmo diante da provação: ...recebendo a palavra em muita tribulação (1.6b). Os cristãos de Tessalônica vivenciaram, com Paulo, experiências semelhantes no que se refere às lutas diárias da fé. Hoje, nós olhamos para a experiência de Paulo, mas com um olhar frio, indiferente. Essa muita “tribulação” (do grego thlipsei , aflição, problema, angústia, perseguição) da qual fala Paulo é, por muitos, evitada, sob a forma do comodismo e do não-envolvimento direto. Mas ainda há aqueles que leem o texto sob o mesmo processo, como por exemplo os missionários que são aprisionados e sentenciados a revelia de seus direitos nos países islâmicos fundamentalistas.

6. A segunda realidade da mímesis cristã é relatada no capítulo 2. Paulo afirma que há uma repetição no padrão da recepção do evangelho no mundo de sua época, por causa das dificuldades causadas pelo império romano às religiões monoteístas (como o cristianismo) que fomentavam novos conversos: “Tanto é assim, irmãos, que vos tornastes imitadores das igrejas de Deus existentes na Judéia em Cristo Jesus; porque também padecestes, da parte dos vossos patrícios, as mesmas coisas que eles, por sua vez, sofreram dos judeus” (1Ts 2.14).

­­­7. Mas, apesar de tudo, acompanha a lide cristã um sentimento de alegria, produzido pelo Espírito de Deus: recebendo a palavra... com gozo do Espírito Santo” (1.6c). Paulo relacionava a constância na vida cristã à alegria interior de saber que o cristão cumpre um papel vital para o reino de Deus: “...segundo a força da sua glória, em toda a perseverança e longanimidade; com alegria” (Cl 1.11). Surpreende que a alegria cristã seja sempre uma alegria “potencial”, como afirmou Paulo aos Filipenses: “completai a minha alegria...” (Fp 2.2).

8. Imitar Paulo é imitar Cristo, pois Paulo imita Jesus. É o mesmo que adotar os princípios que regem a conduta do servo obediente e fiel. Eu e você temos vários exemplos dignos de serem imitados por sua lealdade à Palavra de Deus e seus ensinamentos. Vale a pena prestar mais atenção aos comportamentos positivos. Infelizmente, o mundo parece gostar mais de salientar os desvios comportamentais do que os bons modelos.

9. Podemos pensar em algumas maneiras pelas quais nos tornamos (ou somos tornados) imitadores do Senhor:

10. Primeiramente, imita Jesus quem assume um papel relevante da obra de Deus, depois de ter respondido 'sim' ao chamado vocacional. Se você sabe quem é e o que deve fazer no reino de Deus está dando um passo seguro rumo ao modelo divino para a vida cristã. É o escritor aos Hebreus que argumenta assim: “para que não vos torneis indolentes, mas imitadores daqueles que, pela fé e pela longanimidade, herdam as promessas” (6.12). Indolência é a atitude de negligência diante da chamada divina, tanto para a salvação como para o serviço cristão, que exige constância.

11. Segundo, imita Jesus quem se comporta como ele. Numa de suas músicas (3), o cantor Fernandinho escreveu:

“Eu quero ser como Jesus 
Eu quero andar como Jesus 
Vou perdoar como Jesus 
Vou me humilhar como Jesus”

Você consegue identificar os aspectos do caráter de Cristo que o cantor quer reproduzir?  Vejamos:

“Eu quero” aponta para o assumir dos princípios de santidade e caráter divinos para a vida.
“Andar” é a metáfora para o comportamento, para as escolhas diárias. Creio que seja esse o sentido básico de “imitar” alguém que serve a Deus.
“Perdoar” é a concretização maior da ação cristã no mundo, pois reproduz o caráter amoroso e misericordioso de Cristo. Você perdoa com facilidade?  Deveria, pois, segundo a Bíblia, devemos oferecer a mesma medida do perdão que Deus nos oferece: “Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou” (Ef 4.2).
“Humilhar-se” não é diminuir-se diante dos demais, sentir-se inferior. Essa atitude é errada. Jesus se humilhou pela total submissão à vontade de Deus, assumindo a forma humana e sacrificando-se por todos os pecadores, ainda que não tivesse nenhuma falta. Quem imita Jesus nesse quesito cumpre as orientações de Pedro: “Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte” (1Pe 5.6), e de Tiago: “Humilhai-vos na presença do Senhor, e ele vos exaltará” (Tg 4.10).

12. Por fim, imita Jesus quem se sente realizado por poder oferecer ao mundo uma oportunidade de salvação, mesmo pagando um alto preço por isso. Isso é uma tarefa de longo prazo. Os pastores, por exemplo, são (ou deveriam ser) modelos de fé: “Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus; e, considerando atentamente o fim da sua vida, imitai a fé que tiveram” (Hb 13.7).

Você é um bom imitador?
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(1) SCHLESENER, Anita Helena. Mímesis e infência: observações acerca de educação a partir de Walter Benjamin. Revista de Filosofia Unisinos 10(2): mai/ago 2009, p. 149
(2) FOULKES, Francis. Efésios: introdução e comentário. São Paulo: Mundo Cristão, p. 115.
(3) A música tem como título “Semelhantes a Jesus”. Pode ser ouvida no endereço http://letras.terra.com.br/fernandinho/565532/

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