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quinta-feira, 11 de março de 2010

A IGREJA-MODELO: reflexões sobre como viver e divulgar a fé


Capítulo V
A eleição da graça
(A razão da segurança dos salvos – 1 Ts 1.4)

1. Eis aqui um dos campos de batalha mais intensos da teologia evangélica. Refiro-me à doutrina bíblica da eleição. A ideia em si tem produzido muito debate, em virtude da posição do reformador Calvino, cuja enorme influência permanece em nossos arraiais(*).

2. Para analisar o ensino bíblico sobre a escolha graciosa de Deus (ELEIÇÃO), que está na base da existência da igreja, há de se conhecer os seguintes conceitos, interrelacionados: presciência, predestinação, soberania e graça.

3. Presciência (do grego prognosis, de onde procede a palavra “prognóstico”) é o conhecimento de antemão. Diz respeito ao fato de que para Deus tem total conhecimento antecipado de todas as coisas. Paulo fala disso, em Efésios 1.4: [Deus] “nos elegeu nele antes da fundação do mundo”.  
Predestinação diz respeito ao plano designado por Deus para essa humanidade que criou.
A soberania de Deus é a base de sua decisão livre e amor incondicional, em que impõe sua vontade santa e justiça misericordiosa à história humana.
Graça é o favor imerecido, estendido por Deus à humanidade pecadora, possibilitando, assim, sua salvação.

4. O reformador Calvino (1509-1564) olhava para essa questão do ponto de vista de Deus, ser soberano, cuja vontade para salvar ou não, se manifestaria independentemente do ser humano, pelo decreto eterno. Portanto, para Calvino, se o homem crê é porque foi escolhido por Deus, desde a eternidade para fazê-lo. Os que pensam assim são os calvinistas.

5. Calvino enfrentou muita oposição no meio cristão e teológico. A posição de Jacobus Arminius (1560-1609), que ficou conhecida como arminianismo, está em direta oposição ao pensamento de Calvino. Ele olhava a questão sob o ponto de vista do homem, cuja liberdade de escolha se manifestava no ato de crer ou de rejeitar a salvação oferecida.

6. Sem dúvida, a posição batista encontrada na nossa Declaração Doutrinária apresenta uma posição equilibrada, numa forma de síntese das duas posições anteriores. À medida que analisamos o uso da expressão por Paulo, visualizaremos o desenvolvimento dessa ideia.

7. Alguns usos por Paulo de “eleição” (do grego eklogê, “escolha”, “seleção”) e seu correlato “eleitos” são esclarecedores:

8. Em Romanos 9.11 – Fazendo menção da escolha de Jacó em lugar do primogênito Esaú. Entendo que no argumento de Paulo, Jacó representa o papel de todos os que herdaram a salvação pela graça e favor divinos. Não há intervenção humana que possa substituir a promessa da salvação em Cristo.

9. Em Romanos 11.5, Paulo descreve a eleição: “no tempo presente ficou um remanescente segundo a eleição da graça”. Deus realiza a salvação por meio de Jesus Cristo no favor imerecido de sua graça, por meio de sua presciência. Nossa Declaração Doutrinária atesta isso, ao afirmar: “Eleição é a escolha feita por Deus, em Cristo, desde a eternidade, de pessoas para a vida eterna, não por qualquer mérito, mas segundo a riqueza da sua graça.”

10. No texto de 1Tessalonicenses 1.4, Paulo faz com que a igreja se lembre de que a eleição divina está na base de sua existência e natureza: “Conhecendo, irmãos, amados de Deus, a vossa eleição”. Paulo tinha por costume designar os crentes como eleitos (Cl 3.12; Tt 1.1).

11. Penso no homem como ser criado à imagem e semelhança de Deus. Deus o dotou da capacidade de escolher, o que é fundamental para sua saúde mental e espiritual. Por isso, ainda que percebendo humildemente as dificuldades de entender essa realidade, nossa Declaração mantém a posição de que “Ainda que baseada na soberania de Deus, essa eleição está em perfeita consonância com o livre-arbítrio de cada um e de todos os homens”.

12. O que Paulo pretendia dizer aos amados de Tessalônica e, por conseguinte, a nós é que precisamos confiar na graça de Cristo, no seu amor misericordioso, e usar de nossa vontade livre para servi-lo, em gratidão, pela certeza e confiança da salvação recebida, quando respondemos com fé ao seu chamado para a salvação.

O pastor Jorge Pinheiro, sintetiza nosso posicionamento doutrinário, no seguinte esquema:
(1) Todos são eleitos;
(2) Deus opera a salvação em e através de Cristo pelo favor imerecido de sua graça;
(3) Deus é pré-ciente
(4) De acordo com o livre-arbítrio, desde a eternidade, Deus elege, chama, predestina, justifica e glorifica.
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(*) Minha gratidão ao Mestre Jorge Pinheiro, por sua exposição firme da doutrina bíblica da eleição, no documento:  "A doutrina da eleição: Calvinismo, arminianismo e o equilíbrio da doutrina batista", que me possibilitou o desenvolvimento das ideias desse capítulo. Pode ser acessado em http://www.teologica.br. 

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