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sábado, 6 de março de 2010

A IGREJA-MODELO: reflexões sobre como viver e divulgar a fé


Capítulo IV
O acorde básico da fé
(A tríade cristã na vida da igreja em Tessalônica - 1Ts 1.3)

1. Sempre gostei de música. Aprendi, no início dos meus estudos musicais, que o acorde mais básico é chamado de tríade, ou seja, um acorde composto por três notas separadas por intervalos de uma terça.

2. A nota musical da fé é, também, uma tríade composta das seguintes notas: fé, esperança e amor. É com essas palavras que Paulo descreve, em suas cartas, a dinâmica da vida cristã.

3. O chamado texto áureo da tríade cristã é 1Coríntios 13.13. Paulo diz: “Agora, pois, permanecem a fé, a esperança, o amor, estes três; mas o maior destes é o amor”. Esse raciocínio encontra-se presente no terceiro versículo da Primeira Carta aos Tessalonicenses, onde Paulo modifica a ordem da tríade: fé, amor e esperança. Paulo ficou sabendo do progresso dos Tessalonicenses pelo relato de Timóteo, que tinha sido enviado por Paulo para fortalecê-los e exortá-los na fé (1Ts 3.2), quando esse foi encontrá-lo em Corinto.

4. Você já ouviu falar em mnemônica? É uma técnica de memorização por associação de imagens, que utiliza a vivência, a associação e o repasse de informações(1). É dela que Paulo fala no início de 1Tessalonicenses 1.3: “lembrando-nos sem cessar...” Fala de si, no sentido de trazer à memória fatos vividos por ele, ali. Com certeza, à medida que escrevia a carta, as lembranças e emoções do apóstolo vinham à tona. Uma delas transparece no capítulo 2, versículo 2, quando diz: “...tivemos a confiança em nosso Deus para vos falar o evangelho de Deus em meio de grande combate”. Paulo se referia às perseguições sofridas na cidade vizinha de Filipos, a primeira parada de Paulo na evangelização da Europa. De fato, quando há emoção envolvida, dificilmente a gente esquece alguma coisa.

5. O uso do advérbio grego “adialeiptos” (incessantemente, ininterruptamente), três vezes, na carta (1.3; 2.13 e 5.17) sugere uma ação costumeira, habitual. Seria muito edificante para nós, cristãos, encontros assim, em que pudéssemos recordar ensinamentos recebidos e as emoções prazerosas dos retiros e congressos espirituais que participamos. Isso nos ajudaria, de fato, a continuar firmes no propósito inicial.

6. A primeira nota musical da fé cristã em Tessalônica é “a obra de fé” que significa, em outras palavras, a fé colocada em ação. Algumas versões traduzem obra como “operosidade”. É uma oração paulina, na Segunda Carta aos Tessalonicenses, o rogo a Deus para que ele “cumpra... toda a obra de fé em poder” (2Ts 1.11b).

7. Isso nos adverte de que a fé produtiva é aquela que responde aos estímulos de Deus. Não trabalhamos por nós mesmos nem para nós mesmos. Somos chamados à ação e capacitados para a ação por Deus, em quem cremos. Um exemplo muito evidente, tirado da experiência do povo de Deus no Antigo Testamento, pode ser encontrado no Salmo 68. Deus é o provedor do fiel. As vitórias do fiel são, em última instância, vitórias de Deus.

8. A segunda nota musical da fé cristã é “o trabalho de amor”. Paulo usa o grego kopos (trabalho), que indica o engajamento em um trabalho árduo, laborioso. A Versão Almeida Revista e Atualizada traduz “abnegação”. Gundry entende que são “feitos de gentileza e misericórdia.”(2) 
De fato, amar é um exercício árduo. Implica em renúncia.


9. Por mais que amemos, ainda há espaço para o amor crescer e “enriquecer”, que é o sentido da palavra usada por Paulo, “abundar”, na arte de amar (1Ts 3.12).

10. No final da carta (1Ts 5.8), Paulo coloca o amor ao lado da fé, compondo uma metáfora interessante: a “couraça”, que era uma peça da armadura dos soldados, cobrindo o peito as costas e os ombros.(3)
Assim, Paulo dá a entender que o amor cristão tem essa capacidade de assegurar uma condição estável para o enfrentamento das batalhas da fé.

11. Enfim, a última nota musical do acorde da fé cristã é “a firmeza de esperança” direcionada para a vinda do Senhor Jesus Cristo. As duas cartas aos tessalonicenses têm esse conteúdo escatológico. Paulo os instrui acerca do consolo trazido pela certeza de que o Senhor a todos abrigará, no fim de tudo. “Firmeza” é a tradução do grego hypomone, uma referência à capacidade de aguentar a pressão, de suportar a provação. Algumas versões traduzem como “paciência”. A frase tem relação acentuada com a descrição de Hebreus 12.1,2a: “...corramos com perseverança [hypomone] a carreira que nos está proposta, fitando os olhos em Jesus.”

12. Aprendo, com Paulo, que a salvação a mim prometida já irrompeu na história (e na minha história pessoal). Dada como uma certeza para mim, ela me impulsiona. Nas muitas crenças que existem, falta esse sentido de consolação e liberdade do medo da morte. Só para aqueles a quem a vida foi oferecida como dádiva, em Cristo, a esperança é real. Ela é real para você? Espero que sim.

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(1) In: http://www.universia.com.br/universitario/materia.jsp?materia=6948
(2) GUNDRY, Robert. Panorama do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova,
p. 300
(3) DAVIS, John. Dicionário da Bíblia. São Paulo: Hagnos. p. 53

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