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segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Libertos para servir: reflexões sobre o prazer no serviço a Deus

Cap X

A ESCRAVIDÃO
da lei

1. Há muitas dúvidas no que se refere à lei na Bíblia. O que há de tão terrível na condição de submissão humana à lei? Não seria a vida sob o ditame de regras definidas e absolutas uma grande possibilidade de melhorar a existência humana?

2. A questão é complexa. Quando alude “à escravidão da lei”, Paulo não está se referindo às normas legais que dirigem e regulam as relações sociais. Estas normas constituem um avanço no campo social de qualquer cultura.

3. O que ele tem em mente é um outro tipo de estatuto, presente na vida dos seres humanos, desde a desobediência de Adão (Gn 3). Ele fala da lei “do pecado”. Em Gálatas, Paulo usa palavras fortes ao definir esse estatuto: “maldição da lei” (3.13).

4. As Escrituras Sagradas nos informam sobre esta relação homem-pecado, quando faz uso da palavra “escravidão”. A exceção à regra é o próprio Cristo, “nascido debaixo da lei” (Gl 4.4b), mas “em semelhança da carne do pecado” (Rm 8.3). Por essa razão é que somente Jesus pode operar o resgate da maldição da lei (3.13).

5. Paulo bem explica os efeitos do pecado na vida humana, numa outra carta, dirigida aos romanos. Nela, ele diz: “Não há justo, nem sequer um. Não há quem entenda; não há quem busque a Deus” (3.10,11). O que demonstra claramente o questionamento paulino: Como pode um homem desejar justificar-se pela observância da lei, se o pecado o impede de perceber o próprio Deus em sua vida? Logo, ele conclui: “o homem não é justificado por obras da lei” (2.16a).

6. A lei é, portanto, um tutor implacável contra o pecado. A lei mostra o pecado, denuncia o pecador, evidencia a culpa, acaba por se tornar ineficaz para libertar o homem de sua condição.

7. O argumento usado por Paulo para enunciar o contexto de escravidão em que o homem está sujeito é: “quando éramos meninos, estávamos reduzidos à servidão debaixo dos rudimentos do mundo” (4.3). Esses rudimentos são, na verdade, as bases intelectuais ou religiosas presentes na lei.

8. Como explicar essa sensação de servidão ao pecado na existência humana? Paulo, escrevendo aos Efésios, fala de uma condição de “morte em delitos e pecados” (2.1). A escravidão da lei é um estado de morte. Não apenas no sentido literal, de morte física, mas em sentido espiritual, da inércia ou incapacidade de viver para Deus e em prol de sua causa.

9. Na mesma passagem, anteriormente citada, Paulo explica que a escravidão da lei é “andar segundo o curso deste mundo” (Ef 2.2), ou seja, adequação comportamental aos ideais desta era, marcada pelo desejo pecaminoso. A escravidão da lei é “submissão aos desejos da carne” (Ef 2.3).

10. Em Romanos, Paulo expressa essa terrível condição com palavras fortes: “Deus os entregou, nas concupiscências de seus corações, à imundícia... a paixões infames... a um sentimento depravado, para fazerem coisas que não convêm” (Rm 1.24a, 26a, 28b). Paulo quer dizer com isso que a humanidade pecadora está condenada, impotente e sem esperança, enquanto permanecer nessa condição. Sua recusa em reconhecer e glorificar Deus leva os homens à total degradação.

11. Por essa razão, amados, quando esperamos por motivações internas para o serviço a Deus e para a obediência da fé temos grandes dificuldades. Se em nós não habita bem algum (por causa do pecado), esperar que a abolição da escravidão espiritual se dê a partir de nós mesmos, seja por reflexão, autoconsciência, força de vontade etc. será, no mínimo, uma contradição! Não haverá liberdade do pecado se seguirmos nossa tendência pecaminosa (carne)!

12. Reconheçamos, portanto, pelo testemunho de Paulo aos Gálatas, que a lei do pecado é uma força escravizadora, mas, de igual modo, que graças à misericórdia de Deus, ela não é a única força atuando em vossa vida.
 

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