Pesquisar este blog

terça-feira, 30 de março de 2010

Novo Livro em fase final de publicação

Para minha alegria, já está em fase final de publicação, meu novo livro, "LIBERTOS PARA SERVIR", um comentário da epístola de Paulo aos Gálatas, destinado a novos crentes e grupos de discipulado.
Em abril...

domingo, 28 de março de 2010

Novos professores para a região norte fluminense

Tive enorme privilégio de compartilhar minha experiência pedagógica com professores de adultos na região Norte Fluminense.

Foi uma experiência fascinante

Parabéns ao pastor Samuel, da PIB do Córrego do Ouro, por nos receber em sua igreja.

Aos meus amados 54 novos alunos, desejo um ano promissor.
Pastor Davi Freitas de Carvalho
JUERP, RJ




quinta-feira, 25 de março de 2010

Postagens atrasadas

Desculpem-me, queridos, pelo atraso nas postagens.
Concentro meu tempo, essa semana, para uma capacitação a professores de adultos, em Macaé, no sábado.
Segunda-feira deve estar tudo de volta aos trilhos, com postagens de dois em dois dias.

Pastor Davi Freitas
Queimados, RJ

Aproveito para deixar a agenda pastoral:

Sábado, dia 27 – IB do Córrego, Macaé - Clínica de EBD
Sábado, dia 3 de abril - IB Copacabana, Queimados - Análise e comentário sobre filme evangelístico
Sábado, dia 10 de abril - SIB da Pavuna, RJ - Clínica de EBD

segunda-feira, 22 de março de 2010

A IGREJA-MODELO: reflexões sobre como viver e divulgar a fé

Capítulo 7
Imitadores do Senhor
(A partilha de experiências comuns aos que servem a Deus – 1Ts 1.6)

1. “Você é a cara de seu pai!” – Foi a frase que ouvi, orgulhoso, alguém dizer para meu filho Arthur. Ainda que o olhar daquela pessoa se dirigia apenas para a forma exterior, meu filho é bastante parecido comigo, também, nas atitudes. É sobre isso que Paulo fala em 1Tessalonicenses 1.6,7: o conceito de mímesis, do grego “miméomai” – imitar, seguir o exemplo de outrem.

2. Escritores importantes, como Walter Benjamim, dedicaram tempo e esforço para destacar a importância desse modelo mimético de educação que é muito peculiar na infância. A professora Anita Helena, comentando a obra de Benjamim, afirma que “a capacidade mimética se apresenta como o dom de reconhecer e de produzir semelhanças para compreender e ordenar o mundo, atribuindo-lhe um sentido”. (1) Mas, ao mesmo tempo em que se assemelha ao adulto, a criança  renova e recria a figura que imita. E aí está um direcionamento para a abordagem desse capítulo: Não devemos imitar Paulo e Cristo recriando suas experiências. Isso nos é impossível, pois olhamos para o passado sob o prisma do presente, que projeta sua sombra sobre ele. Cabe-nos vislumbrar, a partir dos relatos bíblicos, como ser semelhantes a Jesus a partir de nossa própria identidade cristã, no contínuo processo de renovação e percepção do sentido da vida que escolhemos, dirigida por Deus para um fim específico: a obediência de fé.

3. Paulo sempre procurava encorajar os cristãos a seguirem seus passos. Exortou, por exemplo, à comunidade cristã de Corinto, por duas vezes: Em 1Coríntios 4.16, disse: “Admoesto-vos, portanto, a que sejais meus imitadores.” O tom da carta era imperativo: “Sede meus imitadores...” (1Co 11.1). Um terceiro exemplo encontra-se na carta aos Efésios, onde diz que é um dever filial assemelhar-se a Deus em caráter e santidade: “Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados” (Ef 5.1). Foulkes lembra que essa é a única ocasião em que o crente é convocado a “imitar Deus”, mediante a vida pautada pelo amor.(2)

4. Em Tessalonicenses, Paulo apresenta a “mímesis” cristã (o ato de termos que nos assemelhar a Cristo) em duas realidades:

5. Primeiramente, Paulo apenas constata o fato na vida daqueles cristãos: “Com efeito, vos tornastes imitadores nossos e do Senhor...” (1.6a). É o mesmo que dizer que o testemunho da igreja era positivo, fiel ao modelo original que fora proposto por Deus para seus filhos amados, mesmo diante da provação: ...recebendo a palavra em muita tribulação (1.6b). Os cristãos de Tessalônica vivenciaram, com Paulo, experiências semelhantes no que se refere às lutas diárias da fé. Hoje, nós olhamos para a experiência de Paulo, mas com um olhar frio, indiferente. Essa muita “tribulação” (do grego thlipsei , aflição, problema, angústia, perseguição) da qual fala Paulo é, por muitos, evitada, sob a forma do comodismo e do não-envolvimento direto. Mas ainda há aqueles que leem o texto sob o mesmo processo, como por exemplo os missionários que são aprisionados e sentenciados a revelia de seus direitos nos países islâmicos fundamentalistas.

6. A segunda realidade da mímesis cristã é relatada no capítulo 2. Paulo afirma que há uma repetição no padrão da recepção do evangelho no mundo de sua época, por causa das dificuldades causadas pelo império romano às religiões monoteístas (como o cristianismo) que fomentavam novos conversos: “Tanto é assim, irmãos, que vos tornastes imitadores das igrejas de Deus existentes na Judéia em Cristo Jesus; porque também padecestes, da parte dos vossos patrícios, as mesmas coisas que eles, por sua vez, sofreram dos judeus” (1Ts 2.14).

­­­7. Mas, apesar de tudo, acompanha a lide cristã um sentimento de alegria, produzido pelo Espírito de Deus: recebendo a palavra... com gozo do Espírito Santo” (1.6c). Paulo relacionava a constância na vida cristã à alegria interior de saber que o cristão cumpre um papel vital para o reino de Deus: “...segundo a força da sua glória, em toda a perseverança e longanimidade; com alegria” (Cl 1.11). Surpreende que a alegria cristã seja sempre uma alegria “potencial”, como afirmou Paulo aos Filipenses: “completai a minha alegria...” (Fp 2.2).

8. Imitar Paulo é imitar Cristo, pois Paulo imita Jesus. É o mesmo que adotar os princípios que regem a conduta do servo obediente e fiel. Eu e você temos vários exemplos dignos de serem imitados por sua lealdade à Palavra de Deus e seus ensinamentos. Vale a pena prestar mais atenção aos comportamentos positivos. Infelizmente, o mundo parece gostar mais de salientar os desvios comportamentais do que os bons modelos.

9. Podemos pensar em algumas maneiras pelas quais nos tornamos (ou somos tornados) imitadores do Senhor:

10. Primeiramente, imita Jesus quem assume um papel relevante da obra de Deus, depois de ter respondido 'sim' ao chamado vocacional. Se você sabe quem é e o que deve fazer no reino de Deus está dando um passo seguro rumo ao modelo divino para a vida cristã. É o escritor aos Hebreus que argumenta assim: “para que não vos torneis indolentes, mas imitadores daqueles que, pela fé e pela longanimidade, herdam as promessas” (6.12). Indolência é a atitude de negligência diante da chamada divina, tanto para a salvação como para o serviço cristão, que exige constância.

11. Segundo, imita Jesus quem se comporta como ele. Numa de suas músicas (3), o cantor Fernandinho escreveu:

“Eu quero ser como Jesus 
Eu quero andar como Jesus 
Vou perdoar como Jesus 
Vou me humilhar como Jesus”

Você consegue identificar os aspectos do caráter de Cristo que o cantor quer reproduzir?  Vejamos:

“Eu quero” aponta para o assumir dos princípios de santidade e caráter divinos para a vida.
“Andar” é a metáfora para o comportamento, para as escolhas diárias. Creio que seja esse o sentido básico de “imitar” alguém que serve a Deus.
“Perdoar” é a concretização maior da ação cristã no mundo, pois reproduz o caráter amoroso e misericordioso de Cristo. Você perdoa com facilidade?  Deveria, pois, segundo a Bíblia, devemos oferecer a mesma medida do perdão que Deus nos oferece: “Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus, em Cristo, vos perdoou” (Ef 4.2).
“Humilhar-se” não é diminuir-se diante dos demais, sentir-se inferior. Essa atitude é errada. Jesus se humilhou pela total submissão à vontade de Deus, assumindo a forma humana e sacrificando-se por todos os pecadores, ainda que não tivesse nenhuma falta. Quem imita Jesus nesse quesito cumpre as orientações de Pedro: “Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte” (1Pe 5.6), e de Tiago: “Humilhai-vos na presença do Senhor, e ele vos exaltará” (Tg 4.10).

12. Por fim, imita Jesus quem se sente realizado por poder oferecer ao mundo uma oportunidade de salvação, mesmo pagando um alto preço por isso. Isso é uma tarefa de longo prazo. Os pastores, por exemplo, são (ou deveriam ser) modelos de fé: “Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pregaram a palavra de Deus; e, considerando atentamente o fim da sua vida, imitai a fé que tiveram” (Hb 13.7).

Você é um bom imitador?
_____________________________________________________

(1) SCHLESENER, Anita Helena. Mímesis e infência: observações acerca de educação a partir de Walter Benjamin. Revista de Filosofia Unisinos 10(2): mai/ago 2009, p. 149
(2) FOULKES, Francis. Efésios: introdução e comentário. São Paulo: Mundo Cristão, p. 115.
(3) A música tem como título “Semelhantes a Jesus”. Pode ser ouvida no endereço http://letras.terra.com.br/fernandinho/565532/

segunda-feira, 15 de março de 2010

A IGREJA-MODELO: reflexões sobre como viver e divulgar a fé



Capítulo 6
A transmissão do evangelho
(Palavra de Poder e convicção, acompanhada do testemunho pessoal - 1Ts 1.5)


1. Quando leio Paulo escrevendo sobre “nosso evangelho” (1Ts 1.5) ou “meu” evangelho (2Tm 2.8), me pergunto: Existe uma apropriação do evangelho pelo pregador, de tal maneira que fale sobre ele em termos de posse? Com toda certeza, não.


2. Paulo descreve a natureza do evangelho (a boa nova da salvação, em Cristo Jesus) pelo uso de alguns complementos:

- Quando quer falar da origem do evangelho, seus complementos prediletos são: de Deus, de seu Filho, de Cristo.
- Ao falar do propósito do evangelho, descreve-o como de paz ou reconciliação (Rm 10.15; Ef 6.15) e da salvação (Ef 1.13).
- E quando fala do direcionamento do evangelho, na sua missão, descreve-o como da incircuncisão, ou seja, dirigido ao mundo gentílico (Gl 2.7).


3. O evangelho deve ser ministrado, anunciado, pregado. Mas ele pode, também, ser transformado ou pervertido (Gl 1.7). Por isso, “nosso evangelho” é uma designação da relação íntima e verdadeira com a mensagem cristã.  Identifica o mensageiro como alguém “aprovado por Deus” (1Ts 2.4) para transmitir a mensagem de salvação.


4. A transmissão do evangelho era feita diante de muitas dificuldades. Paulo descreve em 1Tessalonicenses que precisou superar muitos obstáculos e de coragem para pregar o evangelho naquela cidade idólatra. Sua viagem pela província romana da Macedônia deu seu primeiro fruto na cidade de Filipos. A narrativa de Atos 16 fala de sua prisão por causa da exposição do evangelho. A acusação: “E nos expõem costumes que nos não é lícito receber nem praticar, visto que somos romanos” (16.21). Pregar a conversão ao “Senhor” Jesus Cristo era uma afronta direta ao regime romano, cujo elemento principal, naquela época, era o imperador Claudio.


5. Em 1Tessalonicenses 2.2, Paulo diz ter sido, junto com Silas, “agravados em Filipos” , mas, ainda assim, ele não recua diante da batalha que estava por enfrentar em Tessalônica: “...tornamo-nos ousados em nosso Deus, para vos falar o evangelho de Deus com grande combate”. Lucas descreve uma turba de cidadãos de Filipos rasgando as vestes do apóstolo e dando-lhes chicotadas, antes de o colocarem na prisão (At 16.22,23). A região em que Paulo e Silas estavam presos sentiu um tremor de terra tão forte que abalou a estrutura da prisão em que eles estavam. Na ocasião, Deus usou Paulo e Silas para a conversão do carcereiro e sua família. Os magistrados locais, receosos de represálias por terem aprisionado cidadãos romanos, foram obrigados a soltá-los. Eles viajaram cerca de 150km em direção a sudeste, até Tessalônica, onde enfrentaram, também, a perseguição dos judeus helenistas.


6. Não há como discordar que o enfrentamento das perseguições movidas pelos ímpios contra o evangelho é mais fácil na companhia de amigos e irmãos na fé. Assim, entendo que “nosso evangelho” (1Ts 1.4) é uma indicação de esforço conjunto e cooperação. Entre os Tessalonicenses, Paulo não trabalhou sozinho: “E enviamos Timóteo, nosso irmão, e ministro de Deus, e nosso cooperador no evangelho de Cristo” (1Ts 3.2).


7. Mas é no capítulo 2 que Paulo desenvolve os argumentos em prol da seriedade da transmissão do evangelho. No versículo 2, Paulo define a pregação como “exortação” (do grego paraklesis): “palavra de encorajamento, consolo”, mas, também, apelo à salvação, tal qual fazem os pregadores, hoje, no fim de suas mensagens. É uma exortação “em Cristo” (Fp 2.1a).


8. Paulo insiste que sua exortação evangélica difere dos discursos vários, naquela comunidade, que tinham o propósito de enganar, ludibriar. Lembremos que, na cidade de Filipos, de onde Paulo viera, ele encontrou uma jovem escrava, que tinha espírito de adivinhação, e que dava grande lucro aos seus senhores (At 16.17,18). Seus problemas começaram ali, quando a libertou e deixou os negociantes da fé sem expectativas de lucro. Com certeza, numa cidade idólatra como Tessalônica, a situação se repetia: o uso econômico do discurso religioso com o propósito de enganar. Ao se diferençar dos demais, Paulo denunciava, assim, as religiões que se apropriavam da superstição dos tessalonicenses em troca de interesses econômicos. John Eadie, comentando o texto grego da epístola, diz que Paulo usou a linguagem como veículo de comunicação, mas sua mensagem ia além da materialidade do discurso: a vitalidade e o poder do Espírito caracterizavam seu discurso(1).


9. Paulo apresenta dois perigos para a transmissão do evangelho: a lisonja e a ganância: “Pois, nunca usamos de palavras lisonjeiras,  como  sabeis,  nem  agimos com intuitos gananciosos” (1Ts 2.5). Lisonja, do grego kolakeias, é bajular, adular com baixeza. Soa assim, muitas vezes, o discurso político, que tem interesses escusos por detrás de cada argumento. Ganância, do grego pleonexia, é a avareza e, também, o forçar alguém a fazer alguma coisa. Paulo apela para o testemunho de Deus, no tocante ao desinteresse econômico de sua pregação. Ele fez questão de ganhar seu próprio sustento, durante o mês em que ficou entre os tessalonicenses: “Porque, vos recordais, irmãos, do nosso labor e fadiga; e de como, noite e dia labutando para não vivermos à custa de nenhum de vós, vos proclamamos o evangelho de Deus” (2Ts 2.9).


10. Em 1Tessalonicenses 2.7, Paulo fala da transmissão do evangelho com “brandura”(2), ou seja, sem aterrorizar nem forçar o pecador. Tudo indica que Paulo usava da conversação coloquial e da intimidade familiar. Indica, também, sabedoria para apresentar o evangelho num ambiente de oposição. No versículo 8, Paulo faz um comentário interessante: junto com o evangelho que pregava, desejava comunicar sua alma: “Assim nós, sendo-vos tão afeiçoados, de boa vontade desejávamos comunicar-vos não somente o evangelho de Deus, mas  ainda  as  nossas próprias almas”. Isso mostra, claramente, a conexão profunda entre a mensagem pregada e a mensagem vivida.


11.  Retomando, aqui, a afirmação paulina em 1Tessalonicenses 1.5, chegamos à conclusão que ao discurso religioso não pode faltar poder, que advém do Espírito de Deus que comunica a verdade ao pregador. O pregador do evangelho discursa “em poder, e no Espírito Santo” (1Ts 1.5b). Aprendo com Paulo que Deus discursa através de nós, usando-nos, como vasos de barro: “Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não da nossa parte” (2Co 4.7). Também, ao que transmite o evangelho da salvação, não pode faltar “plena convicção” (do grego pleroforia, “convicção”, “certeza absoluta”). Tal certeza envolve três aspectos: convicção de ter sido chamado por Deus para a tarefa a ser realizada; certeza da verdade plena da mensagem a ser apresentada e, também, convicção plena de que Deus é poderoso para cumprir cabalmente suas promessas.


12. Paulo deixa lições preciosas para que saibamos enfrentar os obstáculos à pregação do verdadeiro evangelho: primeiro, sejamos companheiros dos que pelejam pelo evangelho. Isso significa apoiar física, emocional e espiritualmente. Segundo, preguemos para encorajar e consolar, oferecendo com o ensino evangélico alívio para a alma consumida pelo pecado. Por fim, preguemos com ternura e plena convicção do poder de Deus para transformar o  pecador, pela fé no Cristo de Deus(3).   
____
(1) EADIE, John. A commentary of the greek text of the epistles of Paul to the Tessalonians. London: Macmillan. Texto clássico, em versão digital.
(2) Algumas versões trazem a palavra grega nepioi, traduzindo: “tornei-me criança no meio de vós”, mas brandura, do grego epioi, harmoniza melhor com o contexto.
(3) Matthew Henry destaca, em seu comentário bíblico (CPAD, p. 1013), que “o evangelho de Cristo está concebido de modo a mortificar os afetos corruptos, e para que os homens possam ser levados a submeterem-se ao poder da fé”.

quinta-feira, 11 de março de 2010

A IGREJA-MODELO: reflexões sobre como viver e divulgar a fé


Capítulo V
A eleição da graça
(A razão da segurança dos salvos – 1 Ts 1.4)

1. Eis aqui um dos campos de batalha mais intensos da teologia evangélica. Refiro-me à doutrina bíblica da eleição. A ideia em si tem produzido muito debate, em virtude da posição do reformador Calvino, cuja enorme influência permanece em nossos arraiais(*).

2. Para analisar o ensino bíblico sobre a escolha graciosa de Deus (ELEIÇÃO), que está na base da existência da igreja, há de se conhecer os seguintes conceitos, interrelacionados: presciência, predestinação, soberania e graça.

3. Presciência (do grego prognosis, de onde procede a palavra “prognóstico”) é o conhecimento de antemão. Diz respeito ao fato de que para Deus tem total conhecimento antecipado de todas as coisas. Paulo fala disso, em Efésios 1.4: [Deus] “nos elegeu nele antes da fundação do mundo”.  
Predestinação diz respeito ao plano designado por Deus para essa humanidade que criou.
A soberania de Deus é a base de sua decisão livre e amor incondicional, em que impõe sua vontade santa e justiça misericordiosa à história humana.
Graça é o favor imerecido, estendido por Deus à humanidade pecadora, possibilitando, assim, sua salvação.

4. O reformador Calvino (1509-1564) olhava para essa questão do ponto de vista de Deus, ser soberano, cuja vontade para salvar ou não, se manifestaria independentemente do ser humano, pelo decreto eterno. Portanto, para Calvino, se o homem crê é porque foi escolhido por Deus, desde a eternidade para fazê-lo. Os que pensam assim são os calvinistas.

5. Calvino enfrentou muita oposição no meio cristão e teológico. A posição de Jacobus Arminius (1560-1609), que ficou conhecida como arminianismo, está em direta oposição ao pensamento de Calvino. Ele olhava a questão sob o ponto de vista do homem, cuja liberdade de escolha se manifestava no ato de crer ou de rejeitar a salvação oferecida.

6. Sem dúvida, a posição batista encontrada na nossa Declaração Doutrinária apresenta uma posição equilibrada, numa forma de síntese das duas posições anteriores. À medida que analisamos o uso da expressão por Paulo, visualizaremos o desenvolvimento dessa ideia.

7. Alguns usos por Paulo de “eleição” (do grego eklogê, “escolha”, “seleção”) e seu correlato “eleitos” são esclarecedores:

8. Em Romanos 9.11 – Fazendo menção da escolha de Jacó em lugar do primogênito Esaú. Entendo que no argumento de Paulo, Jacó representa o papel de todos os que herdaram a salvação pela graça e favor divinos. Não há intervenção humana que possa substituir a promessa da salvação em Cristo.

9. Em Romanos 11.5, Paulo descreve a eleição: “no tempo presente ficou um remanescente segundo a eleição da graça”. Deus realiza a salvação por meio de Jesus Cristo no favor imerecido de sua graça, por meio de sua presciência. Nossa Declaração Doutrinária atesta isso, ao afirmar: “Eleição é a escolha feita por Deus, em Cristo, desde a eternidade, de pessoas para a vida eterna, não por qualquer mérito, mas segundo a riqueza da sua graça.”

10. No texto de 1Tessalonicenses 1.4, Paulo faz com que a igreja se lembre de que a eleição divina está na base de sua existência e natureza: “Conhecendo, irmãos, amados de Deus, a vossa eleição”. Paulo tinha por costume designar os crentes como eleitos (Cl 3.12; Tt 1.1).

11. Penso no homem como ser criado à imagem e semelhança de Deus. Deus o dotou da capacidade de escolher, o que é fundamental para sua saúde mental e espiritual. Por isso, ainda que percebendo humildemente as dificuldades de entender essa realidade, nossa Declaração mantém a posição de que “Ainda que baseada na soberania de Deus, essa eleição está em perfeita consonância com o livre-arbítrio de cada um e de todos os homens”.

12. O que Paulo pretendia dizer aos amados de Tessalônica e, por conseguinte, a nós é que precisamos confiar na graça de Cristo, no seu amor misericordioso, e usar de nossa vontade livre para servi-lo, em gratidão, pela certeza e confiança da salvação recebida, quando respondemos com fé ao seu chamado para a salvação.

O pastor Jorge Pinheiro, sintetiza nosso posicionamento doutrinário, no seguinte esquema:
(1) Todos são eleitos;
(2) Deus opera a salvação em e através de Cristo pelo favor imerecido de sua graça;
(3) Deus é pré-ciente
(4) De acordo com o livre-arbítrio, desde a eternidade, Deus elege, chama, predestina, justifica e glorifica.
_____

(*) Minha gratidão ao Mestre Jorge Pinheiro, por sua exposição firme da doutrina bíblica da eleição, no documento:  "A doutrina da eleição: Calvinismo, arminianismo e o equilíbrio da doutrina batista", que me possibilitou o desenvolvimento das ideias desse capítulo. Pode ser acessado em http://www.teologica.br. 

segunda-feira, 8 de março de 2010

Lembrando as mulheres de posição, em Tessalônica, convertidas a Cristo

O abecedário da mulher virtuosa
(Minha homenagem pastoral às obreiras, no seu dia internacional)

No dia internacional da mulher, saúdo às obreiras que somam esforços na obra de Deus, dignificando o nome de Cristo.

Um texto bíblico interessante, por sua natureza poética, é Provérbios 31.10-31, em que o autor compõe uma poesia com 22 frases, cada uma delas começando com uma letra do alfabeto hebraico, de Álefe (a primeira), a Tau (a vigésima segunda).

Em resumo, com as letras hebraicas,
a mulher "internacional" de Deus, versículo por versículo:




 Agradeço a Deus, diariamente, 
pelas MULHERES VIRTUOSAS da minha vida:
Minha esposa amada, Celeste, dádiva divina, 
como afirma seu nome “Do céu”.
Minha filhota, Kariny, minha inspiração.
Minha mãe, Hilda, cujo caráter inspira minha ética e missão.  


Davi Freitas de Carvalho
Pastor batista, há 19 anos.

sábado, 6 de março de 2010

A IGREJA-MODELO: reflexões sobre como viver e divulgar a fé


Capítulo IV
O acorde básico da fé
(A tríade cristã na vida da igreja em Tessalônica - 1Ts 1.3)

1. Sempre gostei de música. Aprendi, no início dos meus estudos musicais, que o acorde mais básico é chamado de tríade, ou seja, um acorde composto por três notas separadas por intervalos de uma terça.

2. A nota musical da fé é, também, uma tríade composta das seguintes notas: fé, esperança e amor. É com essas palavras que Paulo descreve, em suas cartas, a dinâmica da vida cristã.

3. O chamado texto áureo da tríade cristã é 1Coríntios 13.13. Paulo diz: “Agora, pois, permanecem a fé, a esperança, o amor, estes três; mas o maior destes é o amor”. Esse raciocínio encontra-se presente no terceiro versículo da Primeira Carta aos Tessalonicenses, onde Paulo modifica a ordem da tríade: fé, amor e esperança. Paulo ficou sabendo do progresso dos Tessalonicenses pelo relato de Timóteo, que tinha sido enviado por Paulo para fortalecê-los e exortá-los na fé (1Ts 3.2), quando esse foi encontrá-lo em Corinto.

4. Você já ouviu falar em mnemônica? É uma técnica de memorização por associação de imagens, que utiliza a vivência, a associação e o repasse de informações(1). É dela que Paulo fala no início de 1Tessalonicenses 1.3: “lembrando-nos sem cessar...” Fala de si, no sentido de trazer à memória fatos vividos por ele, ali. Com certeza, à medida que escrevia a carta, as lembranças e emoções do apóstolo vinham à tona. Uma delas transparece no capítulo 2, versículo 2, quando diz: “...tivemos a confiança em nosso Deus para vos falar o evangelho de Deus em meio de grande combate”. Paulo se referia às perseguições sofridas na cidade vizinha de Filipos, a primeira parada de Paulo na evangelização da Europa. De fato, quando há emoção envolvida, dificilmente a gente esquece alguma coisa.

5. O uso do advérbio grego “adialeiptos” (incessantemente, ininterruptamente), três vezes, na carta (1.3; 2.13 e 5.17) sugere uma ação costumeira, habitual. Seria muito edificante para nós, cristãos, encontros assim, em que pudéssemos recordar ensinamentos recebidos e as emoções prazerosas dos retiros e congressos espirituais que participamos. Isso nos ajudaria, de fato, a continuar firmes no propósito inicial.

6. A primeira nota musical da fé cristã em Tessalônica é “a obra de fé” que significa, em outras palavras, a fé colocada em ação. Algumas versões traduzem obra como “operosidade”. É uma oração paulina, na Segunda Carta aos Tessalonicenses, o rogo a Deus para que ele “cumpra... toda a obra de fé em poder” (2Ts 1.11b).

7. Isso nos adverte de que a fé produtiva é aquela que responde aos estímulos de Deus. Não trabalhamos por nós mesmos nem para nós mesmos. Somos chamados à ação e capacitados para a ação por Deus, em quem cremos. Um exemplo muito evidente, tirado da experiência do povo de Deus no Antigo Testamento, pode ser encontrado no Salmo 68. Deus é o provedor do fiel. As vitórias do fiel são, em última instância, vitórias de Deus.

8. A segunda nota musical da fé cristã é “o trabalho de amor”. Paulo usa o grego kopos (trabalho), que indica o engajamento em um trabalho árduo, laborioso. A Versão Almeida Revista e Atualizada traduz “abnegação”. Gundry entende que são “feitos de gentileza e misericórdia.”(2) 
De fato, amar é um exercício árduo. Implica em renúncia.


9. Por mais que amemos, ainda há espaço para o amor crescer e “enriquecer”, que é o sentido da palavra usada por Paulo, “abundar”, na arte de amar (1Ts 3.12).

10. No final da carta (1Ts 5.8), Paulo coloca o amor ao lado da fé, compondo uma metáfora interessante: a “couraça”, que era uma peça da armadura dos soldados, cobrindo o peito as costas e os ombros.(3)
Assim, Paulo dá a entender que o amor cristão tem essa capacidade de assegurar uma condição estável para o enfrentamento das batalhas da fé.

11. Enfim, a última nota musical do acorde da fé cristã é “a firmeza de esperança” direcionada para a vinda do Senhor Jesus Cristo. As duas cartas aos tessalonicenses têm esse conteúdo escatológico. Paulo os instrui acerca do consolo trazido pela certeza de que o Senhor a todos abrigará, no fim de tudo. “Firmeza” é a tradução do grego hypomone, uma referência à capacidade de aguentar a pressão, de suportar a provação. Algumas versões traduzem como “paciência”. A frase tem relação acentuada com a descrição de Hebreus 12.1,2a: “...corramos com perseverança [hypomone] a carreira que nos está proposta, fitando os olhos em Jesus.”

12. Aprendo, com Paulo, que a salvação a mim prometida já irrompeu na história (e na minha história pessoal). Dada como uma certeza para mim, ela me impulsiona. Nas muitas crenças que existem, falta esse sentido de consolação e liberdade do medo da morte. Só para aqueles a quem a vida foi oferecida como dádiva, em Cristo, a esperança é real. Ela é real para você? Espero que sim.

_____

(1) In: http://www.universia.com.br/universitario/materia.jsp?materia=6948
(2) GUNDRY, Robert. Panorama do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova,
p. 300
(3) DAVIS, John. Dicionário da Bíblia. São Paulo: Hagnos. p. 53

sexta-feira, 5 de março de 2010

A IGREJA-MODELO: reflexões sobre como viver e divulgar a fé

Capítulo III
Corações agradecidos
As orações de ação de graças a Deus pelo apóstolo
  
(Comentário de 1Tessalonicenses 1.2:
"Damos, sempre, graças a Deus por todos vós, mencionando-vos em nossas orações e, sem cessar")

Você é daqueles que agradecem a Deus "por tudo"?
O que será que Paulo quer dizer com essa expressão "Em tudo dai graças"?

1. Em suas orações, principalmente, aquelas que faz para agradecer, Paulo tem a preocupação de mencionar as pessoas que se converteram a Deus durante suas campanhas missionárias. Paulo usa uma palavra grega especial, eucharisto, que traduz a ideia de “ação de graças”.

2. A oração sempre se dirige à pessoa de Deus Pai. Jesus falava com Deus assim (Mt 15.36; Jo 11.41). Da mesma maneira, Paulo orava assim (Rm 1.8; 1Co 1.4; Fp 1.3) e os salvos são retratados no Apocalipse orando assim: “Graças te damos, Senhor Deus, Todo-Poderoso, que és e que eras, porque assumiste o teu grande poder e passaste a reinar” (Ap 11.17).

3. Paulo faz questão de agradecer a Deus por ter possibilitado que o trabalho em Tessalônica frutificasse. Os gentios que se converteram a Deus eram por ele lembrados, incessantemente (1Ts 1.2). A partir da fé em Cristo, os gentios de Tessalônica podem contar com a ação constante do Espírito Santo para criar o ambiente de harmonia espiritual necessário para uma relação espiritual, seja com Deus seja com o próximo.

4. Paulo agradece, também, pela aceitação de sua mensagem, encarada pelos gentios de Tessalônica como tendo caráter divino.

Analisando a diferença que Paulo dá à palavra “humana” e à palavra que, ainda que produzida pelo discurso humano, tem origem divina (1Ts 2.13), fico a pensar na relevância dessa oração para nós, hoje. Há  uma hiperexposição do discurso religioso na mídia. Grande parte desses discursos se encaixa, evidentemente, na descrição paulina "palavra humana". Tais discursos causam tanta polêmica que já tramitam pelo Congresso Nacional projetos de reformas constitucionais e disposições que têm como proposta a diminuição do discurso religioso na TV. Fosse a mensagem televisiva "puramente" evangélica, seria a televisão um meio "quente" e não "frio", como explica a teoria da comunicação.

5. Ainda assim, penso que (guardadas as devidas proporções) devemos agradecer constantemente por Deus nos proporcionar sua palavra, por quaisquer meios de comunicação. A Palavra da verdade é o meio pelo qual ele trabalha, eficazmente, na vida do crente. É o mesmo raciocínio desenvolvido por Paulo em Efésios 3.7, quando o apóstolo afirma que foi feito ministro de Deus: “...segundo a operação do seu poder”.

6. Paulo explica que a oração de ação de graças é um tributo (1Ts 3.9). A palavra grega sugere a idéia de "recompensa, devolução". É uma idéia interessante, principalmente, em nossos dias, onde a mentalidade é a de receber de Deus, em vez de retribuir a Deus.

Será que estamos dispostos a retribuir em gratidão a Deus pelo desenvolvimento da igreja, pelos novos convertidos? Será que o nosso coração está cheio da alegria de vivenciar a igreja se reproduzindo, como estava o de Paulo?

7. No capítulo 5, versículo 18, Paulo faz a última afirmação sobre o dever de orar agradecendo a Deus na Primeira Carta. Ele diz que devemos agradecer a Deus por todas as coisas que ele faz:  “Em tudo, dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco”.

8. Muitos entendem que devemos agradecer, inclusive, pelos desatinos e desvarios ocorridos em nossa vida, provocados por pessoas mal intencionadas e, também, pelo inimigo de nossas almas. Mas não é isso que passa pela cabeça de Paulo.

9. O uso correlato que ele faz da expressão grega ‘en panti’ (Em tudo), em 2Coríntios 6.4-10, quando fala de seu testemunho pessoal como ministro de Deus, delineia uma moldura para focalizar a missão a realizar, em duas frentes: 

a. “Em tudo”, para Paulo, inclui o sofrimento imposto pelo mundo para a realização da obra de Deus: aflições, privações, angústias, açoites, prisões, tumultos, trabalhos, vigílias, jejuns (v. 4,5), são dificuldades momentâneas produzidas em função de sua missão. Paulo não agradece pelos problemas, o que seria uma espécie de desequilíbrio emocional. Paulo agradece por fazer parte da obra de Deus, superando tais obstáculos, por amor a seu Senhor.

b. "Em tudo", também, na mesma linha de pensamento, inclui os incentivos divinos para suportar e vencer no ministério: a pureza, o saber, a longanimidade, a bondade, o Espírito Santo, o amor não fingido, a palavra da verdade, no poder de Deus, as armas da justiça (v. 6,7).

10. Longe de viver se autodestruindo, Paulo se sente vivo; longe de se sentir castigado e quase morto, Paulo se sente animado e alegre; longe de se sentir pobre e necessitado, ele se enxerga como um benfeitor espiritual, enriquecendo a muitos.

11. Paulo tinha um coração agradecido. E nós? Temos agradecido a Deus pelas oportunidades de realizar sua obra? Ainda há tempo de começar...

12. Um coração agradecido é uma das mais poderosas forças de divulgação da fé.